REVISTA RES PUBLICA
  • Atual
  • Arquivo
  • Estatuto
  • Contactos
​__________________________________​

LUÍSA SALGUEIRO
Natural de Matosinhos, nasceu em 1968 e formou-se em Direito tendo praticado advocacia durante vários anos, uma profissão na qual “também se faz política”. Integrou pela primeira vez as listas do Partido Socialista em 1997, tendo ocupado o cargo de vereadora da Câmara Municipal de Matosinhos. Foi deputada à Assembleia da República entre 2005 e 2017, ano em que foi eleita presidente da Câmara Municipal de Matosinhos. Preside à Associação Nacional de Municípios Portugueses desde 2021. 
 ________________________________

 “PORTUGAL É A GRANDE PROVA
DE QUE O SOCIALISMO DEMOCRÁTICO
É A IDEOLOGIA DO PRESENTE E DO FUTURO”

​
Luísa Salgueiro

Picture
Porquê o Partido Socialista?

Sem ter tido filiação partidária durante muitos anos, filiei-me já próximo dos 30 anos, sempre me posicionei no quadrante do socialismo democrático da social democracia. Comecei a ter uma intervenção política através de um órgão consultivo da juventude no meu concelho e revi-me na forma de intervenção que o município tinha. Portanto, quando fui convidada a aderir ao partido, aderi convicta e coerentemente porque acredito na valorização da igualdade de oportunidades, na criação de condições para que as pessoas tenham uma vida digna, na intervenção através do Estado para garantir que todas as pessoas têm acesso aos bens essenciais e aos serviços essenciais, sem afastar obviamente a necessidade de termos a participação do mercado, não tenho nenhum dogma relativamente a isso. Portanto, revia-me nos ideais do Partido Socialista português, democrático e progressista.
 
Conte-nos como foi a sua adesão ao PS. Quando e em que circunstâncias?
​

Eu sou advogada de profissão e acho que se faz política também na advocacia. Foi sempre assim que me vi a ser advogada, também por essa relação com os Direitos Humanos e no apoio às pessoas e no acompanhamento àqueles que estão mais vulneráveis e que de outra forma não têm quem seja a sua voz, a voz de alguém que precisa de ser defendido. Depois tive uma participação mais próxima do partido quando aceitei o convite para pertencer àquele que eu penso ter sido o primeiro conselho consultivo de juventude em Portugal, que agora são os concelhos municipais da juventude. Eu era independente, fui convidada para pertencer ao conselho consultivo da juventude de Matosinhos, pautava a minha intervenção nesse órgão por ser muito reivindicativa, contradizer muitas propostas que vinham do executivo, tive sempre opinião, fiz-me sempre ouvir, e no final de um mandato como membro do conselho da juventude o Narciso Miranda, que era Presidente da Câmara, convidou-me a integrar as listas do Partido Socialista. Eu aceitei porque me revia na forma de trabalho, porque entendi que a partir desse órgão poderia oficial e institucionalmente ter um papel político e foi assim que aconteceu, sem nunca ter pensado nisso previamente.

* * *

“A visão de sociedade integral, do reforço às populações mais vulneráveis, da realização dos investimentos que permitam alavancar zonas do território que precisam do investimento público, tudo isso foi decisivo e é indissociável também da presença do Partido Socialista”. 

​* * *
Na sua opinião, qual foi o contributo mais importante do PS para a democracia portuguesa?

O Partido Socialista deu e dá um contributo decisivo para vivermos numa democracia. O seu grande ativo são as pessoas, tendo tipo sempre políticas que garantem a igualdade entre todos. Em Portugal, com um período longo de liderança do Partido Socialista, as pessoas sabem que independentemente da sua condição à nascença, têm condições para ter dignidade em termos do respeito pela vida humana, por termos criado o Serviço Nacional de Saúde, um serviço de segurança social, a escola pública de qualidade, mas também, em simultâneo, por termos sido e sermos ao longo destes tempos de democracia um partido que garante estabilidade, um bem cada vez mais apreciado pelo eleitorado, e que ao mesmo tempo é capaz de garantir boas contas públicas, finanças públicas saudáveis, e de criar confiança nas pessoas. Eu penso que o Partido Socialista durante estes 50 anos soube garantir a afirmação e a maturidade do sistema democrático em Portugal, colocando-se como um partido moderno e permitindo que Portugal, com a então adesão à CEE e a sua presença na Europa, possa ser um país de oportunidades para todos, um país desenvolvido, onde as empresas também podem investir, onde se capta investimentos estrangeiro.
 
Quais foram os acontecimentos / momentos políticos para si mais marcantes na história do PS?

A democracia portuguesa é o primeiro grande marco que eu associo ao Partido Socialista. Eu era muito pequena no 25 de Abril, mas desde que comecei a ter consciência política que associo o Partido Socialista a todos esses momentos, a fazer a história do Partido Socialista e a fazer a história da democracia em Portugal. Depois obviamente Mário Soares e a sua primeira liderança, o trabalho que fomos fazendo na aproximação à Europa, a nossa presença determinante no espaço europeu. As maiorias absolutas, a primeira do engenheiro António Guterres, depois a do engenheiro Sócrates, depois a de António Costa, são os grandes momentos que eu associo ao nosso percurso.

Parece-me me absolutamente essencial a primeira Constituição da República em que o Partido Socialista, foi protagonista, portanto, a consagração dos direitos, [bem como] o funcionamento das instituições democráticas. Tudo isso tem a chancela e a assinatura do Partido Socialista. Eu associo sempre a história deste período ao Partido Socialista.
 
Quem foram/são para si as maiores referências ou as referências fundamentais do PS, que mais a influenciaram ou inspiraram?
​

Obviamente Mário Soares, em termos do percurso, não de uma relação direta, mas da admiração que tinha à distância enquanto jovem, do trabalho, da liderança e da personalidade forte dele. O engenheiro António Guterres, que me marca muito com o seu humanismo, com a sua capacidade agregadora, com a sua visão, é uma figura altamente inspiradora.
Picture
Depois em termos locais, duas figuras: Narciso Miranda, que era o Presidente [da Câmara] com quem comecei a trabalhar, mas, sem dúvida, o Guilherme Pinto, que foi meu colega durante muitos anos, mais tarde Presidente [da Câmara] e que eu considero um grande visionário da política, mas também um homem com grande capacidade de ação. E António Costa, a pessoa com quem mais me identifico do ponto de vista político, a minha referência, a minha inspiração, com quem me identifico na visão que tem, na capacidade de ação. Sem dúvida que é decisivo para Portugal termos uma pessoa [como António Costa] a liderar-nos, ao país e a nós enquanto socialistas também.
 
Que papel diferenciador é que o PS pode ter a nível autárquico?
​

O poder local democrático é uma das grandes conquistas da democracia portuguesa. Muito do que o país é deve-se à intervenção do poder local, das Câmaras Municipais, das Juntas de Freguesia, das Assembleias Municipais e obviamente que a presença do Partido Socialista é indissociável do percurso que o poder local fez em Portugal. Embora ao nível local as diferenças do ponto de vista do quadrante ideológico e partidário sejam menos visíveis do que nas políticas nacionais, ainda assim, os instrumentos que foram criados a nível central para serem usados ao nível municipal também resultaram muito das visões dos autarcas e a presença fortíssima do Partido Socialista no poder local alavancou as comunidades. A visão de sociedade integral, do reforço às populações mais vulneráveis, da realização dos investimentos que permitam alavancar zonas do território que precisam do investimento público, tudo isso foi decisivo e é indissociável também da presença do Partido Socialista. Durante muito deste período da democracia portuguesa, o Partido Socialista teve a maioria das autarquias em Portugal, como acontece atualmente, e a valorização, a qualificação, a centralidade que o poder local tem na vida das populações, porque muitas vezes, ou a maioria das vezes, são as entidades locais que satisfazem as primeiras necessidades das populações, é uma das grandes marcas do Partido Socialista da qual me orgulho muito. Tenho agora, ao liderar a Associação Nacional de Municípios, a grande responsabilidade de valorizar todo o trabalho e o legado que herdei, mas de fazer com que o processo histórico que estamos a realizar de descentralização de competências mude a capacidade que o Estado social tem para satisfazer as necessidades das pessoas, empodere as autarquias locais, responsabilize de forma ainda mais notória a intervenção que as autarquias têm na vida das pessoas, e a minha profunda convicção, diria mesmo certeza, é a de que os direitos das pessoas serão ainda mais reforçados e o serviço à população será muito melhorado porque nós [autarquias] temos desde logo os diagnósticos mais rigorosos, conhecemos as reais necessidades das pessoas, sabemos a melhor forma de as satisfazer e, portanto, a partir de 2022/2023 o que acontecerá em Portugal será seguramente em benefício das pessoas.
 
Quais as questões mais desafiantes que se colocam ao presente e ao futuro do PS?

O Partido Socialista e a democracia vivem grandes desafios. Diria que a Humanidade vive grandes desafios! Vivemos num momento de transição a vários níveis, do ponto de vista até da sustentabilidade do planeta, a transição ambiental, as alterações climáticas estão a acontecer na nossa vida, isso deixou de ser distante e passou a fazer parte do quotidiano; as novas ferramentas do conhecimento e a inteligência artificial, a digitalização da vida e o distanciamento que isso gera; a dificuldade que temos de nos aproximarmos e de nos mantermos numa relação direta com o eleitorado, o eleitorado tende a afastar-se dos partidos, os mais jovens tendem a considerar tudo isto de que aqui falávamos, o Estado social, a educação, a escola pública, o Serviço Nacional de Saúde, como dado adquirido e pelo qual não é necessário lutar. Temos agora o grande desafio de fazer compreender, sobretudo às gerações que já nasceram com estes direitos consagrados, que não são garantidos, que o perigo espreita, aliás. O Partido Socialista tem essa grande responsabilidade, enquanto partido que garantiu a consagração destes direitos, de fazer com que também nas atuais e futuras gerações essa consciência da importância da defesa do direito do próprio, mas também do terceiro, continue a estar presente na vida das pessoas. Eu penso que esse alheamento do eleitorado face aos partidos políticos é um dos grandes desafios. 
* * *

“O Partido Socialista tem essa grande responsabilidade, enquanto partido que garantiu a consagração destes direitos, de fazer com que também nas atuais e futuras gerações essa consciência da importância da defesa do direito do próprio, mas também do terceiro, continue a estar presente na vida das pessoas.”

​* * *
E, obviamente, desafios dos tempos de hoje em Portugal, como o envelhecimento da população, a necessidade de termos uma segurança social capaz de responder às necessidades da população mais envelhecida, o gap demográfico que nos obriga a ter uma nova política de imigração; com ela os riscos dos discursos da xenofobia que podem dar azo a que fenómenos extremistas de direita cresçam no nosso espectro. E, portanto, o desafio que temos é o de garantir que a democracia portuguesa seja capaz de se manter viva, de não corrermos o risco que alguns movimentos vençam, na medida em que a mensagem que passam é a de que os partidos políticos nem sequer são necessários, a participação cívica é decisiva e fundamental e bastante para o funcionamento da sociedade como temos. Os desafios de uma economia cada vez mais competitiva, cada vez mais aberta; a globalização, a concentração dos rendimentos que é cada vez maior num número cada mais reduzido de pessoas, isso significa que também temos de ter uma política do ponto de vista social que não replique essas desigualdades. São os grandes desafios que temos nos dias de hoje.
 
O socialismo e a social-democracia são história ou resposta para o futuro?
​

Não tenho dúvidas de que o socialismo democrático e social democracia são [uma resposta] de presente e de futuro. É verdade que temos vindo a assistir na Europa, a fenómenos contrários e, portanto, corremos o risco de ver alguns movimentos de direita, até extremistas, crescerem, o que é um perigo para a democracia na Europa. Mas creio que Portugal é a grande prova de que o socialismo democrático é a ideologia política do presente e do futuro. O nosso país lidera pelo exemplo e podemos demonstrá-lo a vários níveis: se começarmos pela educação, tivemos a redução mais significativa dos níveis de abandono escolar do absentismo e de melhoramento dos resultados, apostamos forte na educação, quer do ponto de vista dos programas, quer do ponto de vista dos equipamentos, temos um parque escolar e políticas educativas e recursos de topo. Temos, por outro lado, os níveis de emprego mais altos dos últimos vinte anos, quer do emprego jovem, quer do emprego em geral, mesmo depois de vivermos uma fase de dificuldades acrescidas como foi a pandemia e a guerra na Europa. Portugal continua a dar o exemplo do bom aluno em termos de emprego, mas paralelamente também da captação de investimento, continuamos a ser um espaço que as empresas internacionais escolhem para fazer os seus investimentos. O apoio aos mais vulneráveis, a definição de políticas de suporte às camadas mais frágeis da população, termos sido o partido que criou o Rendimento Mínimo, que criou Complemento Social para Idosos, significa que nós olhamos para a sociedade como um todo, desde aquelas camadas que estão numa situação mais vulnerável e que precisam do Estado para as apoiar, para tomar delas, até às grandes empresas internacionais que para quem somos um ambiente amigável para investir. [Temos] grande capacidade de captação de investimento, o facto de atrairmos pessoas de todas as nacionalidades por sermos um país seguro, por sermos um país com boas condições, quer de rede rodoviária, quer de equipamentos de saúde, isso significa que as políticas que fomos desenvolvendo ao longo destes anos muito graças à marca do Partido Socialista demonstraram que o socialismo democrático é aquele que mais consegue garantir que não fica ninguém para trás e que há uma verdadeira igualdade de oportunidades.

Portanto, não vejo se não futuro na social democracia, mas mais importante do que ser a minha opinião, porque sou suspeita obviamente, creio aquilo que tem acontecido em Portugal nos últimos tempos mostra que o Partido Socialista representa a vontade da maioria dos portugueses e das portuguesas. Temos sido capazes de adaptar os nossos programas àquilo que são as reais necessidades das pessoas, das famílias, das empresas. Por isso não há melhor mensagem, agora que se está a comemorar os 50 anos, do que percebermos que temos um trajeto já realizado de que nos orgulhamos. Mas, sobretudo, comemoramos os 50 anos com esta perspetiva de confiança no futuro que estamos a construir, [confiança] nos dias de hoje, de recuperar da pandemia e de enfrentar a guerra aqui ao nosso lado. Sabemos que o país que vamos deixar para o futuro com uma marca do Partido Socialista Português é um país moderno, é um país tecnologicamente competitivo, é um país em que as pessoas podem ter o seu emprego, é um país que está a atrair os jovens que tinham saído de Portugal por não terem opções de vida, é um país onde as mulheres têm condições de serem iguais aos homens, é um país que promove essa dignidade da pessoa humana e isso deve-se ao Partido Socialista. Eu tenho uma filha e trabalho para a geração atual, mas sobretudo para os próximos, e sinto-me muito orgulhosa por fazer parte desta família política, por ser uma militante responsável deste partido e dizer aos portugueses, sobretudo aos jovens, que estamos aqui com uma visão transversal, integral da sociedade portuguesa e que somos o futuro para todas e todos aqueles que queiram viver numa sociedade verdadeiramente coesa, justa e pautada pela equidade.
​download PDF
​número 04 // novembro 2023
no. 04 // novembro 2023
Entrevista
download PDF
FUNDAÇÃO RES PUBLICA
A Fundação Res Publica é uma instituição dedicada ao pensamento político e às políticas públicas. À luz dos seus estatutos, inspira-se nos valores e princípios da liberdade, da igualdade, da justiça, da fraternidade, da dignidade e dos direitos humanos.


​
​
fundacaorespublica.pt






Picture
Proudly powered by Weebly
  • Atual
  • Arquivo
  • Estatuto
  • Contactos